No sábado, dia 21 de setembro de 2024, a Herdade das Servas, em Estremoz, no Alentejo, vai ser palco da 1.ª edição do Regenerative Wine Fest (RWF), um evento pioneiro – e para toda a família – que visa abordar o tema da agricultura regenerativa, com foco na viticultura. Num ambiente descontraído, tem como objetivo promover a literacia sobre as práticas agrícolas neste contexto e de que forma estas podem criar vinhos únicos e, simultaneamente, ajudar a salvar os ecossistemas onde coexistimos com os outros seres vivos.
O RWF 2024 vai reunir produtores, viticólogos, enólogos e outros especialistas, assim como entusiastas do vinho, oferecendo uma plataforma única para a troca de conhecimentos sobre práticas sustentáveis, que para além de respeitarem o meio ambiente, visam revitalizar e regenerar o ecossistema e vão moldar o futuro do setor. Durante o Regenerative Wine Fest, os participantes vão ter a oportunidade de assistir a quatro talks(* consultar temas abaixo), conduzidas pelo curador e jornalista Edgardo Pacheco; provar vinhos dos oito produtores presentes, que se regem por esta prática; almoçar com petiscos do Legacy Winery Restaurant, ali mesmo na Herdade das Servas; e ouvir a atuação de um grupo de músicos alentejanos. Isto para além de terem a possibilidade de visitar a adega.
O Regenerative Wine Fest sublinha a importância de práticas agrícolas que restauram a biodiversidade do solo, melhoram a saúde das vinhas e produzem vinhos de alta qualidade com um impacto ambiental positivo. São oito os produtores que vão marcar presença nesta edição: para além da anfitrião Herdade das Servas – Serrano Mira, os projetos Adega Mayor (Alentejo), Família Nicolau Wines (Lisboa), Paulo Coutinho (Douro), Quinta da Covela – Lima & Smith (Vinhos Verdes), Reynolds Wine Growers (Alentejo), Tapada de Coelheiros (Alentejo) e Vale dos Ares (Vinhos Verdes).
Tendo como premissa a literacia sobre o tema, foi criado o domínio www.regenerativewinefest.pt, onde está a ser divulgada informação sobre o evento, Viticultura Regenerativa, e onde se podem comprar os bilhetes. O Regenerative Wine Fest 2024 é um evento para todos, crianças incluídas. Os bilhetes são gratuitos até aos 9 anos e têm um valor de €20,00, dos 10 aos 18 anos, e de €55,00, para adultos – incluem copo e prova de vinhos (só para adultos), almoço volante, acesso às talks e visita à adega.
O RWF promete ser um marco no calendário enófilo, reforçando o papel de produtores que apostam na excelência e nas inovações que estão a transformar a viticultura contemporânea, com vista a uma produção vitivinícola sustentável de A a Z.
REGENERATIVE WINE FEST 2024
PROGRAMA
10h00 – Início do Regenerative Wine Fest
10h00 às 10h30 – Acreditação dos Participantes
10h30 às 17h30 – Prova de Vinhos
11h00 às 11h30 – Talk 01: A Viticultura Regenerativa é um trunfo em Portugal?
12h00 às 12h30 – Talk 02: Solo, plantas e ser humano – como é que tudo isto se liga?
13h00 às 15h00 – Almoço volante by Legacy Winery Restaurant
15h00 às 15h30 – Talk 03: Certificar ou não certificar – eis a questão.
16h00 às 16h30 – Talk 04: Lã de ovelha, algas ou vísceras de peixe – isso combate as doenças na vinha?
17h00 às 18h00 – Atuação musical
18h00 – Final do Regenerative Wine Fest
Possibilidade de visita à adega às 10h30, 13h00 e 14h30, mediante disponibilidade e inscrição no momento da acreditação.
TEMAS E ORADORES DAS TALKS
Aprender sobre Viticultura Regenerativa em 4 Talks, conduzidas pelo curador e jornalista Edgardo Pacheco
Talk 01 – 11h00 às 11h30 – A Viticultura Regenerativa é um trunfo em Portugal?
Georgete Félix, Investigadora do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) // Luís Serrano Mira, Proprietário da Herdade das Servas – Serrano Mira
Quem acompanha as notícias saberá que o setor do vinho está debaixo de um temporal com causas conhecidas e previsíveis, mas com consequências desconhecidas e imprevisíveis. Por um lado, há vinho a mais num mundo hiper liberalizado e a circular como o vento (sem controlo); por outro, temos uma quebra acentuada do consumo para uma bebida que se transformou numa comodity (como café, farinha ou arroz). Luis Serrano Mira é um fervoroso defensor do vinho como um bem alimentar com identidade territorial (é sua imagem de marca) e Georgete Félix é uma investigadora em áreas que cruzam a economia e a adoção de práticas culturais que não destruam os ecossistemas (um belo dilema), pelo que vamos arrancar com uma boa pergunta: é possível fazer-se vinho com identidade regional, com seriedade, com respeito pelo ambiente e – ainda assim – ganhar dinheiro?
Talk 02 – 12h00 às 12h30 – Solo, plantas e ser humano – como é que tudo isto se liga?
Mário Carvalho, Professor (aposentado) em Agricultura Geral, na Universidade de Évora // Miguel Soares, Viticólogo da Quinta da Covela – Lima & Smith (Vinhos Verdes) // Nélson Martins, Viticólogo da Reynolds Wine Growers (Alentejo)
Em tese, a Viticultura Regenerativa é fácil de explicar: um solo saudável produz videiras saudáveis; videiras saudáveis não precisam de tratamentos químicos agressivos que fazem mal à própria videira, ao meio ambiente e a nós consumidores que bebemos vinho de forma civilizada. Simples. Sucede que esta equação defendida pelos mestres da Viticultura Regenerativa (gente fascinante) tem muitas variáveis. Esta talk tem justamente a finalidade de explicar ao detalhe o que é a Viticultura Regenerativa como se fôssemos crianças de 5 anos. Que ninguém se ofenda porque somos eternos aprendedores. Com Miguel Soares (consultor em viticultura), Nélson Martins (viticólogo da Reynolds) e Mário de Carvalho, professor de solos da Universidade de Évora, vamos perceber o que é isto da simbiose entre solo, planta, meio ambiente e homem.
Talk 03 – 15h00 às 15h30 – Certificar ou não certificar – eis a questão.
Miguel Queimado, Enólogo e Viticólogo do Vale dos Ares (Vinhos Verdes) // Sérgio Nicolau, Produtor Família Nicolau Wines (Lisboa) e co-fundador da Orgo
Enquanto conceito, a Agricultura Regenerativa começou há pouco tempo em Portugal, mas Sérgio Nicolau já é um decano na Viticultura Regenerativa (tem um vinho chamado Regenerativo). Miguel Queimado é produtor da região dos Vinhos Verdes e tem um domínio impressionante sobre micro terroirs de Alvarinho, com os quais criou uma linha de vinhos de encantar (marca Vale de Ares). Além do mais, tem experiência ao nível do associativismo. Estes dois especialistas vão abordar um tema importante para a Viticultura Regenerativa: a certificação dos processos. É um tema delicado. Por um lado, convém que haja uma entidade que dê segurança aos consumidores, caso contrário ninguém se entende; por outro, há conceitos/mecanismos que podem levantar dúvidas e são caros para a realidade nacional. Donde, Portugal deve criar um mecanismo de certificação próprio? Deve aderir a algum já existente? Eis as perguntas para o início da conversa entre o Sérgio e o Miguel.
Talk 04 – 16h00 às 16h30 – Lã de ovelha, algas ou vísceras de peixe – isso combate as doenças na vinha?
Francisco Pessoa, Gestor Agrícola da Adega Mayor (Alentejo) // João Raposeira, Responsável de Viticultura e Ecossistemas da Tapada de Coelheiros (Alentejo) // Renato Neves, Diretor de Viticultura e Enologia da Herdade das Servas – Serrano Mira (Alentejo)
Uma das questões que intriga os consumidores é o modo de tratamento das vinhas. Se as doenças continuam por aí, como é que a Viticultura Regenerativa se livra delas sem produtos fitofarmacêuticos agressivos? Ter um solo com matéria orgânica disponível, videiras saudáveis e boa simbiose com o meio envolvente ajuda, mas é preciso estar sempre alerta. Renato Neves é o enólogo das Herdade das Servas que também é viticólogo porque em primeiro lugar estão as uvas e só depois o vinho; João Raposeira, da Tapada de Coelheiros, faz preparados com solos do montado, melaço e farelo de trigo, que estão a ser estudados pela academia; e Francisco Pessoa, da Adega Mayor, é conhecido no meio da Viticultura Regenerativa como o Panoramix, visto que, como no universo do Asterix, passa o tempo a inventar poções mágicas para prevenir e combater pragas. São três técnicos de renome, altamente apaixonados pelo que fazem e com grande capacidade didática. De maneira que vamos perceber como é que as receitas naturais feitas com lã de ovelha, algas ou vísceras de peixe combatem míldio, oídio e outras maleitas.. Uma conversa divertida entre três druidas.