Carlos Lucas nasceu em Coimbra, mas sempre esteve ligado ao Dão. Homem da terra, lavrador moderno, tem um percurso de 30 anos nos vinhos: Montpellier, Piemonte, Priorat, Vale de S. Francisco são alguns locais onde gravou as suas mãos. A Magnum-Carlos Lucas Vinhos foi fundada em 2011, em Carregal do Sal, e está intrinsecamente ligada ao produtor e enólogo que lhe dá o nome e à Quinta do Ribeiro Santo, onde tem a sua sede e instalações de vinificação.
Texto: Pedro Silva
Fotos: Fotos D.R.
A Quinta do Ribeiro Santo foi uma propriedade adquirida pelo seu pai. Remodelou a casa e replantou a vinha. O primeiro vinho com a marca Quinta do Ribeiro Santo é lançado para o mercado em 2000. Como descreve esse vinho?
CL – Já não provo esse vinho há algum tempo. Temos poucas garrafas. Não é um vinho que se abra todos os dias. A última vez que o bebi foi há 2 anos. Recordo-me que era um vinho branco do ano 2000, com notas de frutos secos bem evidenciados. É um vinho com uma grande capacidade de envelhecimento. Defino-o como um vinho com história, apesar de ser muito difícil descrevê-lo sem ter o copo à frente.
O que o faz acreditar no potencial dos vinhos do Dão?
CL – É uma região com uma história centenária. Falamos da primeira região de vinhos portugueses de mesa. Como região demarcada vem logo a seguir ao Porto. Falamos de uma região capaz de oferecer vinhos com um potencial de guarda incrível. É uma região que transporta para a mesa, desde o vinho mais barato ao vinho mais caro, uma emoção e uma imagem de grandes vinhos. É um vinho que tem à vindima uma acidez real muito próxima daquela que é considerada a ideal.
As castas que existem estão muito bem adaptadas. Para mim é a região em Portugal onde qualquer enólogo gostaria de trabalhar. É uma região capaz de apresentar vinhos com 30 anos de garrafa absolutamente incríveis. Abro uma ou duas garrafas por ano de Porta dos Cavaleiros, por exemplo de 1963, e todas elas estão absolutamente incríveis. Tenho 150 garrafas desse vinho e quando vou abrindo não há uma que falhe. Tenho um prazer incrível com estes vinhos.
O enoturismo é cada vez mais uma oportunidade para dar a conhecer a história da região, vinhas e o seu legado. Qual a importância que atribui ao enoturismo?
CL – Acho que é muito interessante as pessoas poderem vir às adegas visitar as vinhas. Gostamos muito de receber as pessoas. Vejo o enoturismo como uma atitude de franqueza que os produtores têm para com os consumidores. Tenho orgulho de ter fundado o segundo restaurante de enoturismo em Portugal. Aqui no Ribeiro Santo temos as portas abertas para receber as pessoas que querem comprar vinho ou apenas conhecer a adega. Recebemos pessoas de vários países, Franceses, Ingleses… é algo fundamental na relação entre produtor e consumidor.
Atualmente está em projetos de vinho na região do Douro (Quinta das Herédias), Alentejo (Nunes Barata – Herdade Vale de Joana) e nos vinhos verdes (Casa Grande de Santana, em Manhuncelos). Porquê a aposta em diferentes regiões?
CL – A minha essência é ser produtor e enólogo. Quando produzo vinho exporto Portugal. Não tenho vinhos dos Açores ou do Algarve (um dia tentarei fazer). Na verdade, quando exportamos pensamos no Dão, Douro e Alentejo. Se não dominar o ciclo obviamente que serei ultrapassado, até porque um produtor quando exporta apenas uma região é mais difícil sobreviver só com o que produz nessa área.
Assinala um percurso de 30 anos a trabalhar nos vinhos… que anos foram estes a trabalhar como enólogo?
CL – É trabalhar 7 dias por semana e 364 dias por ano. É ter sempre pronta a máquina de barbear e a escova de dentes para fazer muitos quilómetros por semana. É ter a boa vontade e a condescendência da família para não estar em casa no dia de aniversário de casamento ou do filho.